
Maioria das mulheres negras não buscam atendimento de saúde ou medida protetiva depois de agressões em todos os níveis de escolaridade, aponta ainda pesquisa do DataSenado e Nexus em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência.
Uma em cada três mulheres negras que afirmam não ter renda suficiente para se sustentar já sofreu algum tipo e agressão. Destas, 85% continuam vivendo com o agressor. Este número é quatro vezes maior do que a média de mulheres negras que foram vítimas de violência, independentemente da renda (21%).
É o que aponta a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra realizada por DataSenado e Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, Dia da Consciência Negra (20).
No total, o levantamento mapeou que 66% de mulheres negras vítimas de violência não têm condições financeiras de se sustentarem sozinhas, sendo que 27% afirmaram não ter nenhuma renda. Trinta e dois por cento afirma ter sofrido algum tipo de agressão; e, para 24%, a violência aconteceu no último ano.
Outra motivação para se manterem vivendo com o agressor é o fato de terem filhos menores de idade. É o caso de 80% das respondentes.
A pesquisa considera que a vulnerabilidade econômica das mulheres pretas e pardas está diretamente associada aos episódios de abuso. Outros levantamentos já mostraram que elas são as principais vítimas de violência doméstica e de feminicídio no Brasil.
“Essa vulnerabilidade financeira não apenas limita sua autonomia, mas também as mantém reféns a relacionamentos abusivos, onde a dependência econômica se torna mais uma ferramenta de controle e violência”, afirma Elga Lopes, Diretora da Secretaria de Transparência e do Instituto DataSenado.
A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra ouviu 13.977 mulheres negras brasileiras com 16 anos ou mais, por telefone, entre 21 de agosto e 25 de setembro de 2023. O nível de confiança é de 95%.
Mulheres negras sem renda buscam menos medidas protetivas e serviços de saúde após agressão
Das vítimas de violência que não têm renda, somente uma média de 30% buscam assistência médica após sofrerem uma violência grave. No entanto, a média para as que não buscam é de 60%, independentemente dos níveis educacionais. As que menos buscam o serviço de saúde (73%) são as que tem ensino fundamental completo.
O índice é ainda mais baixo quando se trata de busca de medida protetiva. Vinte e sete por cento das mulheres negras sem renda buscam medida protetiva, mas o percentual varia entre 65% e 78% das que não buscam. Destas, as que menos pedem medidas protetivas são as com ensino superior completo (78%). Contudo, as mulheres mais escolarizadas são as que mais procuram a Justiça.
“Essa realidade reflete barreiras estruturais e culturais que incluem desde o medo de represálias e a desconfiança nas instituições até a falta de informação sobre os direitos e os serviços disponíveis. Esses fatores, combinados à vulnerabilidade econômica, criam um ambiente onde muitas mulheres não enxergam caminhos seguros para romper com o ciclo de violência”, pontua Milene Tomoike, psicóloga e analista do Observatório da Mulher Contra a Violência.